Mais de 200 pessoas estão desabrigadas ou desalojadas
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© marcelocaumors/Instagram |
Até esta terça-feira (5), o ciclone extratropical formado no
domingo (3) no Sul do país matou 21 pessoas no Rio Grande do Sul e mais uma em
Santa Catarina.
No Rio Grande do Sul, 15 dos 21 óbitos confirmados ocorreram
em uma casa em Muçum, no centro do estado, e seis na região mais ao norte
gaúcho, nos municípios de Mato Castelhano, Passo Fundo, Ibiraiaras e Estrela.
Uma morte ocorreu sobre o Rio Taquari, durante tentativa de resgate de uma
pessoa, por helicóptero, quando o cabo se rompeu e a vítima e o policial
socorrista caíram. A mulher não resistiu aos ferimentos e morreu e o policial
está em estado grave.
No fim desta tarde, o governador do Rio Grande do Sul,
Eduardo Leite, confirmou que este é o maior número de mortes em situações como
essa, no estado.
"Eu recebo a
informação de 15 corpos localizados no município de Muçum, o que causa imensa
dor e faz elevar o número de mortes de seis para 21. O que está configurando o maior número de
mortes em evento climático no estado do Rio Grande do Sul."
No oeste de Santa Catarina, um homem morreu após o carro em
que ele estava ser atingido pela queda de uma árvore derrubada durante uma
ventania de 110 km/h em Jupiá, na segunda-feira (4).
Danos
Os dois estados registram também inúmeros estragos
provocados pelas tempestades. Em Santa Catarina, a Defesa Civil do estado
confirmou a ocorrência de um tornado no município de Santa Cecília, na
comunidade de Anta Morta.
De acordo com o governo gaúcho, o Rio Taquari inundou as
cidades de Muçum, Roca Sales, Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Encantado e
Colinas.
No momento, o Rio Taquari permanece acima da cota de
inundação nas estações Muçum, Encantado e Estrela. Já o Rio Caí ultrapassou
esse nível nas cidades de São Sebastião do Caí e Montenegro. No Rio Grande do
Sul, a Defesa Civil alerta para inundação do Rio Caí, que continua em elevação
a partir do município de São Sebastião do Caí. Há risco de deslizamentos de
terra, pois o solo continua úmido. Em quase todos esses municípios, famílias
estão sendo retiradas de suas casas de forma preventiva.
O estado registrou também queda de granizo, ventos fortes e
tempestades, com os chamados transtornos associados (como enxurradas e
inundações). Os estragos ocorreram, principalmente, na região dos Vales, no
Norte e na Serra Gaúcha. Em alguns municípios, há pontes submersas ou
interditadas. As enxurradas provocaram também a ruptura da ponte que liga
Farroupilha a Nova Roma, com a queda de uma das cabeceiras.
No balanço mais recente, a Defesa Civil gaúcha registrou 62
municípios afetados pelas consequências do ciclone extratropical dos últimos
dias e estimou em 25.734 o número de pessoas afetadas em todo o estado. No
momento, o número de desalojados caiu de 2.649 para 215. A Defesa Civil
contabilizou também 309 casas destelhadas e três destruídas.
Solidariedade
No programa semanal Conversa com o Presidente, Lula
manifestou solidariedade à população que sofre com os efeitos das fortes
chuvas. O presidente adiantou que o ministro do Desenvolvimento Regional,
Waldez Góes, e um representante da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil viajarão ao Rio Grande do Sul nesta quarta-feira (6) para ajudar no que
for necessário. “Onde tiver um problema, o governo federal estará lá para
ajudar as pessoas a se salvar desses problemas. Portanto, nossa solidariedade
ao povo gaúcho. Peço a Deus que diminua a chuva porque as pessoas precisam ter
paz, tranquilidade e sossego para continuar vivendo bem, trabalhando e curtindo
a vida como é de direito de todo mundo”, disse Lula.
Em sua conta na rede X, antigo Twitter, o governador do Rio
Grande do Sul, Eduardo Leite, confirmou que este é o quarto evento climático
severo que atinge o estado desde junho deste ano. Eduardo Leite lamentou cada
uma das mortes e afirmou que a prioridade, neste momento, é evitar outras
perdas humanas.
“Os esforços estão concentrados em salvar vidas, no resgate
e na proteção das pessoas. Desde as 7h da manhã, assim que houve condições de
voo, os helicópteros do governo do Estado se mobilizaram para fazer os resgates
nas comunidades mais afetadas, especialmente na região do Vale do Taquari”,
destacou o governador. Leite acrescentou que, assim que for possível, se
deslocará até as áreas atingidas a fim de acompanhar os trabalhos e garantir
todo o suporte necessário às famílias e aos municípios nas ações de reconstrução.
Em entrevista à Agência Brasil, o prefeito de Lajeado,
Marcelo Caumo, disse que o município tem diversos pontos sem internet, sem luz,
nem serviços de telefonia e que moradores estão ilhados. Caumo descreve a
situação como delicada e uma das piores vividas pelos moradores, após o Rio
Taquari subir 17 metros, somados aos 13 metros de profundidade habituais.
No município gaúcho de Lajeado, enchente do Rio Taquari
alaga ruas e quase encobre casas - Foto: Arquivo pessoal
05/09/2023, Moradores fotografam a enchente do Rio Taquari
na cidade de Lajeado (RS). Foto: Arquivo Pessoal
No município gaúcho de Lajeado, enchente do Rio Taquari
alaga ruas e quase encobre casas - Foto: Arquivo pessoal
Segundo o prefeito, a enchente enfrentada é maior que a de
2020. “Nunca tínhamos vivido uma
enchente com esse volume de água e com a quantidade de desabrigados. São em
torno de mil pessoas nesta condição, cerca de 250 famílias utilizando cinco
ginásios do município." O prefeito esclarece, porém, que o grande problema
são pessoas ilhadas, por terem resistido à recomendação de sair de suas casas,
enquanto a água continuava subindo. “Essas pessoas entendiam que a água não
chegaria naquele ponto de atenção, mas isso foi superado e, agora, não se
consegue acesso a elas, porque nós estamos com muitos pontos da cidade sem luz,
sem sinal de internet. Não conseguem nem mesmo carregar o telefone para
comunicar”, lamenta Marcelo Caumo, que aguarda o Rio Taquari parar de subir.
Pela rede social, na madrugada de hoje, a prefeitura de Roca
Sales, a partir do monitoramento que fazia da elevação do rio Taquari desde o
dia anterior, pediu aos moradores subissem nos telhados das casas para tentar
se proteger da cheia, enquanto esperavam pelo socorro. “A toda a população!
Neste momento desesperado, bombeiros e Defesa Civil não estão dando conta de
auxiliar a todos [os] que necessitam. Pedimos que quem consiga suba nos
telhados e se agasalhe. O auxílio profissional do estado só virá nas primeiras
horas da manhã. Quem tiver barcos que possam auxiliar quem necessita, pedimos
encarecidamente que ajude quem precisa neste momento.”
Mobilização
A Polícia Rodoviária Federal e o Exército cederam aeronaves
e embarcações para as ações de salvamento. O atendimento será reforçado na
região do Vale do Taquari, uma das áreas mais afetadas. Os helicópteros estão
resgatando pessoas avistadas sobre árvores e telhados, além de pacientes
ilhados – como ocorreu na cidade de Roca Sales, onde dez pessoas foram
resgatadas e levadas para o hospital de Estrela.
A Marinha do Brasil informou que enviou uma aeronave modelo
Esquilo, duas viaturas, duas embarcações e 10 militares para apoiar os
atingidos pelo temporal em Lajeado. Outra equipe viajou à região do Vale do
Taquari, para prestar o apoio necessário à população, em conjunto com as
autoridades locais.
O governo do Rio Grande do Sul afirma que está também
mobilizado no suporte aos municípios afetados pelos temporais com helicópteros
e embarcações. A Defesa Civil está monitorando continuamente a situação das
bacias hidrográficas do estado. Além do atendimento à população, o governo
trabalha para desobstruir acessos bloqueados.
Previsão do tempo
Segundo a Defesa Civil do estado, a previsão é que as
chuvas, mesmo após darem uma trégua nesta terça, retornem na quarta-feira (6)
com temporais na região de fronteira entre a Argentina e a Campanha gaúcha.
Na quinta-feira (7), as chuvas continuarão na metade sul do
estado gaúcho, com condições para transtornos devido aos elevados volumes de
chuva. A tendência é de que, na sexta, as instabilidades avancem sobre as
demais regiões do estado com chuvas pontualmente fortes.
A Marinha alerta que amanhã as áreas marítimas das regiões
Sul e Sudeste devem registrar pancadas de chuva, rajadas de vento de até 65
km/h na faixa litorânea entre Florianópolis e São Sebastião (SP), até o fim da
noite de hoje, e mar agitado, por conta deste ciclone extratropical. No litoral
entre o município gaúcho de Tramandaí e Florianópolis, haverá condições
favoráveis à ocorrência de ressaca, com ondas de até 2,5 metros nas praias, até
o fim da madrugada da quarta-feira.
Os ciclones extratropicais são fenômenos meteorológicos
caracterizados por um centro de baixa pressão atmosférica. Associado a esse
fenômeno, há a presença de uma frente fria. Quanto mais baixa a pressão do ar
em seu interior, mais fortes são os ventos causados pelos ciclones.
Fonte: Agencia Brasil